É impensável, ou ao menos deveria ser, que eu reaja assim pelo simples som de sua voz, pelo som de sua risada, inconfundível. Ainda se ele falasse comigo, mas não, era apenas uma gravação, uma filmagem de ema peça, que eu não assistia por causa dele, sim, sabia que ele estava envolvido com a peça, mas assistir, ouvir sua voz, sua risada e reconhece-lo na plateia escura, de costas, apenas metade de sua cabeça, com uma câmera sem muita qualidade e, ainda por cima, ficando com outra garota? Não me parece normal.
O mais estranho é não saber o que sentir, como reagir. Não fiquei mal por ele estar com outra, isto é claramente natural para ele e cheguei a um ponto que não me importo. Fiquei feliz por ouvir sua gargalhada, por ver a um pouco de sua silhueta, mesmo em um ambiente quase sem luz, e conseguir reconhece-lo. Porem, devo admitir, chorei. De tristeza, de saudades, de perda. Perda de algo que nunca realmente tive e saudades de algo que nunca esteve realmente aqui.
Talvez, apenas talvez, um dia ouse dizer que o amei. Se nisso acreditasse, no amor, diria que o amo. Mas não, não acredito, é impossível, apesar de não ser. É. E no momento em que nossas crenças são revistas por nós mesmos é que percebemos o problema. Quando cheguei no pensamento de "eu sinto falta dele, pois talvez o ame" foi que percebi o tamanho da confusão em que me metera. Não acredito no amor, mas talvez eu o ame. Como isso funciona? Obviamente sei que não é o amor de contos de fadas com que todas as garotas sonham, tão pouco é reciproco, mas é um sentimento diferente. Poderia dizer que simplesmente gosto muito dele, porém estaria mentindo, pois eu o odeio. Eu o odeio com todas minhas forças, todos meus pensamentos, discordo de tudo o que ele faz, odeio absolutamente tudo relacionado a ele, sinto raiva, tamanha maior do que todas as outras. Assim como o desejo. Desejo seus lábios nos meus, desejo o sentimento de fervura, a ardência, as malicias, tudo, com todas minhas forças, todos meus pensamentos e com tudo o que tenho.
Desejo tanto que chega a doer.
Desejo ele, odeio ele, com todas minhas forças.
Amo-o?
Tentar esquecer tudo só piora, o vicio de conferir placas inutilmente, a vontade de velo, a paixão por motos, a experiência de novos locais (específicos), de novas coisas, tudo volta para ele. A raiva por idiotas, o nojo por pessoas que agem como ele, de novo, tudo se volta para a mesma pessoa. E é sempre assim, não importa co quantos eu fique, não importa o quanto eu beba, não importa o quanto eu desvie o pensamento, não importa de quantos eu goste, não importa quanto tempo eu fique sem vê-lo ou quanto tempo fiquemos sem conversar, ele sempre está lá. 
Acho que meu maior medo é que este sempre nunca acabe, que ele nunca se vá, mesmo depois de já ter ido. Não quero esquece-lo, não quero que desapareça. Porém não quero que fique.